sábado, 28 de novembro de 2015

“O Brasil não pode repetir com os refugiados o erro da escravidão”

O advogado Pitchou Luambo, de 34 anos, é um vencedor: conseguiu deixar para trás uma guerra civil sangrenta e a opressão de um governo autoritário em sua terra natal, a República Democrática do Congo, para recomeçar a vida no Brasil, onde vive desde 2010 –sorte contrária a de muitos de seus conterrâneos, que diariamente correm o risco de perder a vida ou a liberdade. É um entre milhares de refugiados que anualmente chegam ao Brasil para escapar das consequências de conflitos armados, do autoritarismo político ou das condições de vida precárias. O que encontram aqui, no entanto, é um novo conjunto de obstáculos que alimentam uma situação também dramática. “Será que já me habituei a viver no Brasil? Não sei”, diz, pensativo. “Todos os dias, é luta, luta, luta. Nós vivemos sempre no presente, resolvendo problemas. É difícil começar a planejar o futuro ou dizer que expectativa tenho. E esse sentimento é geral entre os refugiados, de todos os países”, conta. Para reverter esse ciclo vicioso, que aprofunda os problemas que os refugiados e imigrantes já enfrentariam naturalmente em sua adaptação um novo país, Pitchou fundou o Grupo de Refugiados e Imigrantes Sem-Teto de São Paulo (GRIST), com o objetivo de organizar eventos culturais, aulas de francês e rodas de diálogo com brasileiros para apresentar a si mesmos, suas histórias e costumes, e buscar um novo tipo de relacionamento com a sociedade brasileira, mais igual e solidário. O próximo evento de aproximação entre refugiados e brasileiros organizado pelo GRIST ocorre em São Paulo neste domingo (20), próximo ao terminal de ônibus de Cidade Tiradentes. Pitchou, que não tem estabilidade financeira para viver de aluguel, mora em uma ocupação no centro de São Paulo, assim como outros refugiados africanos de países como Togo, Benin, Mali e Camarões, além de imigrantes de países da América do Sul e Caribe, como Bolívia, Peru e Haiti. Todos eles compartilham a dificuldade de conseguir uma renda fixa e a aceitação dos novos vizinhos brasileiros. “O primeiro problema quando cheguei foi o idioma. Depois, conseguir emprego. Qualquer emprego, porque eu não consigo trabalhar na minha profissão. Hoje digo que eu ‘era’ e não que ‘sou’ advogado, porque já são cinco anos sem atuar”, explica. É difícil até conseguir trabalho braçal, embora muitos dos refugiados tenham formação de ensino superior, como Pitchou. “Até para ser servente de pedreiro, eles pedem experiência profissional. Mas como eu vou ter essa experiência? Nunca trabalhei nisso. No Congo, para se formar advogado, você estuda das 8 h às 18 h, todos os dias; e eu só trabalhei na minha área”. Não se trata apenas de burocracia: a dificuldade para ser contratado é, também, consequência de preconceito racial e cultural, que impõe barreiras à assimilação dos imigrantes na sociedade brasileira. “Muitas vezes, percebemos que usam desculpas forjadas para não nos empregar”, diz Pitchou. Por esse motivo, mesmo quando o emprego aparece, as condições geralmente são precárias: a maioria das vagas, especialmente na construção civil, é sem registro ou direitos trabalhistas, para períodos de experiência de seis meses. “Às vezes, o empregador sabe que a obra vai durar só quatro ou cinco meses, por exemplo. Ou então apenas dispensa sem motivo. É um esquema de trabalho que dá muito lucro, mas não dá estabilidade ao refugiado. O período que ficamos desempregados é muito maior que o tempo que passamos trabalhando”, lamenta Pitchou. “Nós estamos junto com os brasileiros construindo a história do país. Amanhã, meu filho não será refugiado, será brasileiro. Ele não vai ter sotaque. Eu, amanhã, posso ser seu sogro. Meu filho pode ser seu genro, então vamos tentar ajudar. Hoje, você está maltratando alguém que poderá ser parte da sua família”, afirma, e faz um paralelo com a história dos primeiros imigrantes africanos que chegaram ao Brasil, sequestrados pelos escravistas portugueses. “Se não fosse a cultura dos escravos, a música, a comida, como seria a cultura brasileira hoje? Naquele período, foi a escravidão que trouxe eles para cá. Hoje, são as guerras mundiais que nos trazem. Mas, do jeito que estamos levando as coisas, corremos o risco de escrever a mesma história. Porque os africanos chegaram naquela época como mão de obra barata, sem perspectiva de vida. De certa forma, é o que acontece hoje também”. Pitchou conta que todos os brasileiros que encontra se esforçam para demonstrar solidariedade, mas muitos têm dificuldade de compreender que, mais grave do que o drama passado, são os problemas do presente. “Eu fico muito triste quando eu me encontro com as pessoas e explico que sou refugiado, que um dia saí de casa de manhã e encontrei mil pessoas mortas onde eu vivia e tive de sair pulando os corpos, e os brasileiros ficam tristes. Todos choram. Só que quando eu falo que estou passando dificuldade aqui, que estou passando fome, que não tenho onde dormir, aí dizem que no Brasil é assim mesmo”, resume. Tags: em pauta • escravidão • Questão Racial • refugiados Leia a matéria completa em: “O Brasil não pode repetir com os refugiados o erro da escravidão” - Geledés http://www.geledes.org.br/o-brasil-nao-pode-repetir-com-os-refugiados-o-erro-da-escravidao/#ixzz3spDdQAiw Follow us: @geledes on Twitter | geledes on Facebook

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Racismo em charge Caxiense.

Porque os assaltantes são negros e os assaltados brancos? Sou negra e já fui assaltada. Todas as vezes por brancos. Branco também assalta. Povo negro de Caxias do Sul. É isso que pensam de nós. Avisada de que os braços dos assaltantes são brancos. Pergunto: Porque máscaras negras? Porque a referência ao Islã? É porque temos imigrantes senegaleses em Caxias do Sul? Isso é uma explícita referência a ambos! O tempo de ficarmos calados já passou. Hoje, buscamos conseguir políticas públicas que nos trouxessem a reparação pela relegação que sofreu o povo negro, ao ser sequestrado na África e escravizado no Brasil. Embora tenhamos que carregar a pecha do escravismo, a vergonha não é nossa. Nossos ancestrais construíram esse País, e nós continuamos construindo. Mas não nos acomodamos mais, aceitando apenas o chão de fábrica como trabalho, ou todos os trabalhos com baixa remuneração e reconhecimento. Queremos e podemos mais. Temos as mesmas qualidades, buscamos as oportunidades. Somos um povo considerado de segunda classe apenas pelos racistas que tem nisso sua única forma de manutenção no poder. A perversidade da tentativa de imposição de uma etnia sobre outra, perpassa pela ignorância das qualidades das demais. Conhecer, livrar-se dos preconceitos e procurar interagir melhor seria o caminho, e não apenas tentar desqualificar e ampliar o preconceito, a discriminação e o racismo. O Conselho Municipal da Comunidade Negra de Caxias do Sul (COMUNE), repudia tal fato, pois aqui não temos apenas assaltantes negros, e a referência ao islã como religião consideramos intolerância religiosa. Os maus praticantes do islã, são os radicais que tanto mal vem causando, mas assim como os preconceituosos, não representam o todo e muito menos a religião. Convidamos a população negra de Caxias a nos unirmos para fazer o enfrentamento a mais essa situação preconceituosa. Maria Geneci Silveira Presidente do COMUNE Caxias do Sul

Titular da Coordenadoria de Igualdade Racial palestra em Bom Jesus

A Prefeitura de Caxias do Sul, por meio da Secretaria da Segurança Pública e Proteção Social (SSPPS), informa que o titular da Coordenadoria Municipal de Promoção de Igualdade Racial, Diógenes de Oliveira Brazil, participa do evento Africanidades de Bom Jesus, I Seminário Municipal de Conhecimento, Reconhecimento e para Traçar Metas de Políticas Públicas para a População Negra. O tema da palestra, que será proferida nesta terça-feira (17/11), será o ‘Racismo Institucional’. Segundo o Mestre Brasil, o tema se define a qualquer sistema de desigualdade que se baseia em raça, pode ocorrer em instituições como órgãos públicos governamentais, corporações empresariais privadas e universidades. “É um debate muito importante, pois é um assunto que causa grande polêmica nos dias atuais”, avalia. mm

A Consciência Negra é necessária

Mês de novembro chegou e com ele vem o dia da Consciência Negra. Muitas pessoas questionam o motivo de tal data, reforçando que o que deveríamos ter, realmente, era um dia da Consciência Humana. Por Flipe Cardoso Do Chuva Acida Muito admira os questionamentos e as intromissões quando se trata das pautas da população negra. Em outubro tivemos três festividades germânicas no estado, mas os mesmos questionamentos não foram feitos. Não foi cobrado, por exemplo, para que fosse realizado uma festa das tradições joinvilenses, com todas as culturas representadas, ao invés de celebrarmos apenas a cultura germânica. Esses questionamentos mostram uma tentativa de silenciar quem sempre lutou e luta para ser escutado e representado. Esses questionamentos são frutos de uma cultura racista que nunca permitiu ou viu com bons olhos o que era produzido pela população negra que, aqui na região, insistem em afirmar que não existia, mesmo que a história afirme o contrário e mostre que, em Joinville, os negros e negras – escravizados e libertos – já frequentavam a região, junto com as famílias luso-brasileiras, e ajudaram os primeiros colonizadores, alemães e noruegueses, que aqui chegaram, em 1851. Para quem ainda duvida, visitem o Cemitério dos Imigrantes de Joinville e vejam lá enterrados alguns dos escravos que aqui viveram. Além do resgate e da luta para que essa história seja propagada e apresentada tanto para moradores, quanto para turistas, a Consciência Negra se faz necessária em uma cidade que continua a insistir ser pertencente a um só povo e que, com isso, contribui para o surgimento de grupos neonazistas e separatistas. Ao acreditar que o problema racial seria resolvido se fosse silenciado, seguindo a lógica Morgan Freemiana, permitiu-se que o problema crescesse, fazendo surgir diversos casos e denúncias de racismo. Recentemente, o caso envolvendo a modelo Haeixa Pinheiro, na disputa do concurso para eleger a rainha da 77ª Festa das Flores, viralizou na internet e deixou mais do que evidente a importância de uma data que relembre o sofrimento da população negra no período escravocrata e as consequências dessa época que persistem até hoje. A invisibilidade negra nos concursos de beleza, por exemplo, é parte das grandes consequências geradas pela escravidão em terras brasilis. Não me agrada esses tipos de concursos, a objetificação da mulher e sua exposição, tendo que corresponder a um padrão pré-estabelecido, reduzindo todas as suas qualidades a simples aparência, tentando criar padrões que demonstrem o que é belo e o que é feio, o que é bom e o que é ruim, o que deve e o que não deve ser aceito, mas diante dos fatos é preciso fazer uma outra análise sobre outra problemática existente: o racismo. Se é permitido a presença de mulheres brancas disputando a coroa de rainha das Escolas de Samba, no Carnaval, por que não é permitido a presença de mulheres negras na disputa pela coroa em eventos da cultura germânica? Ainda insistem em nos intitular como extremistas e intolerantes, quando a realidade nos mostra o contrário. Haeixa pode até não saber, mas representa a negritude joinvilense, todos aqueles e aquelas que se escondem, não querem tocar no assunto, sentem medo. Haeixa está encorajando negros e negras a buscarem a Consciência, a representatividade e o direito de dizer que estamos aqui, que ajudamos a construir essa cidade e que queremos respeito. Respeito à nossa cultura, as nossas tradições. Respeito à diversidade. Somos diferentes, sim. Minha pele negra é diferente da pele branca, mas não é isso que gera o racismo. O que gera o racismo é querer usar dessa diferença para sobressair, tirar vantagem das outras pessoas, hierarquizar. Foi isso que foi feito na escravidão e persiste até os dias de hoje. Sobre os que têm e os que não têm, os que mandam e os que obedecem, os que vivem e os que morrem, os que são livres e os que são encarcerados… Acredito também que devemos ver o que nos une, mas sem um olhar clínico, crítico e analítico do que nos separa, jamais atingiremos a unidade que tanto queremos. É esse olhar clínico que a Consciência Negra tenta trazer todos os anos, todos os meses, todos os dias, mas nunca consegue ser escutada. Os problemas raciais são estruturais no nosso país, não é esvaziando os debates, não é tentando silenciar que iremos chegar a uma solução eficaz. É justamente por meio da escuta, da educação, da pesquisa, da leitura, do conhecimento e, principalmente, da empatia. Se você quer mesmo ter uma Consciência Humana, comece entendendo que a Consciência Negra é importante, pois com todas as desumanidades que nós enfrentamos nos mantemos de pé, tentando dialogar e ensinar um pouco mais sobre a nossa cultura, a pedir mais respeito, a lutar pelo fim do genocídio e da marginalização da nossa população, da nossa religião, das nossas tradições. Salve Zumbi! Salve Dandara! Salve Tereza! Salve todos os heróis e heroínas, negros e negras, que morreram lutando por justiça e liberdade! Estão vivos e serão sempre lembrados. Tags: Consciência Negra • Questão Racial

CONSCIÊNCIA

Não! Não me venha com Consciência Branca, Consciência Humana, com 100% Branco. Esta história negra à brasileira de dor e exclusão, segregação e racismo diário nunca nos desceu. Não tenho o pé na cozinha e nem na Senzala! Minha ascendência é de reis e rainhas, sacerdotes e sacerdotisas. Denegrir é tornar negro, então pode me denegrir à vontade. Vamos denegrir o mundo. Mulato é filho de mula! Negras mulheres, negras rainhas! Não são seu objeto de desejo? Fecha sua cara mané, respeito conserva os dentes! Cabelo ruim? Ah é? Então me diz o dia que ele brigou com você? Não sou essa gente de cor. Somos essa gente de alma e sentimento. Nossos jovens pretos estão morrendo. Você não viu? Ou fez que não enxerga? A dor é nossa. A carne mais barata do mercado é a carne negra? Na suas ideias só se for. Não estamos à venda. Exu nunca foi seu diabo europeu. Meus deuses são negros e qual o problema nisso. E são de guerra, estão na batalha para trazer a paz. Hoje é dia de reflexão. Acorda! Esse mundo de igualdade nunca existiu. Fácil falar de fome com um prato na mesa. E nem vem com essa de estão dividindo o Brasil. Vai no Congresso Nacional que é Branco e no Presídio Preto e me diz qual é a sua igualdade tupiniquim. A verdade é que toda preta e todo preto tem seu diário particular de um detento para contar. Sorriso negro forjado na lágrima. Mas se você não quis ver a história do Brasil, ao menos hoje se ponha a refletir o porquê? Faz o teste do pescoço. Olha para o lado no seu churrasco de picanha e Re Label e veja quantos pretos e pretas estão com você? Olhou? Então! Felipe Brito