sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Senegalês é assassinado em Caxias do Sul

Jornal Pioneiro Homicídio26/02/2016 | 08h48 Senegalês é assassinado em Caxias do Sul Cheikh Tidiane foi morto a tiros Rádio Gaúcha Serra Um senegalês de 28 anos foi morto a tiros na noite de quinta-feira no interior de Caxias do Sul. A vítima é Cheikh Tidiane. As informações são da Gaúcha Serra. Conforme o registro policial, Tidiane trabalhava em uma granja na localidade de São João da 4ª Légua, que pertence ao bairro de Galópolis. A suspeita é de que o crime tenha sido motivado por desentendimento de Tidiane e um colega de trabalho. O suspeito do crime fugiu.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Projeto concede benefícios fiscais a empresa que incentiva trabalhador a concluir estudos

No início deste ano, a Comissão de Finanças e Tributação deve começar a análise de projeto (PL 1431/15) que concede benefícios fiscais às empresas que promovam aumento salarial para o trabalhador que terminar o curso fundamental ou médio. O projeto foi aprovado no final do ano passado pela Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio Como incentivo à progressão educacional dos funcionários, a empresa terá abatimento no Imposto de Renda e na Contribuição Social sobre o Lucro Líquido se conceder aumento salarial de 5% do salário mínimo ao funcionário que obtiver o certificado de conclusão do curso de nível fundamental ou médio, durante o período em que estiver empregado. O abatimento previsto é de 20% superior ao valor total gasto pela empresa com o aumento salarial previsto na proposta. Podem ser beneficiados os trabalhadores que recebem até dois salários mínimos e o aumento de 5% do salário mínimo é para cada certificado apresentado. O autor da proposta, Damião Feliciano (PDT-PB), afirma que o combate ao analfabetismo passa pela integração entre o setor público e as empresas, que devem ser vistas como um dos principais instrumentos de incentivo à educação. O relator da proposta, Marcos Reategui (PSC-AP), citou dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), divulgados em 2013, que afirmam que o brasileiro fica, em média, 7,2 anos na escola. "Esse número é muito pequeno, se nós considerarmos que aqui ao lado, na Bolívia, se fica 9,2 anos, no Chile, 9,8 anos, nos Estados Unidos, de 12 até 13, quase 14 anos na escola. Então, veja que a escolaridade do brasileiro está deixando muito a desejar. Ou seja, a renúncia fiscal está mais do que justificada porque está sendo usada num bem público, que é a educação." Na Câmara, o consultor legislativo Adriano da Nóbrega afirma que, do ponto de vista social, o projeto tem méritos porque busca capacitar os empregados de baixa renda. Mas do ponto de vista econômico, a história muda. "Me parece que o projeto chega num momento ruim. Porque, em princípio, nós agora estamos num período de ajustes de contas em que qualquer benefício fiscal que seja concedido vai onerar ainda mais o Orçamento." O projeto tramita em caráter conclusivo e, após aprovação na Comissão de Finanças e Tributação, segue para a Comissão de Constituição e Justiça. RADIOAGÊNCIA Reportagem - Luiz Cláudio Canuto

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

AGENDA NEGRA DE MARÇO

01 - Morre Mestre Valentim (Valentim da Fonseca e Silva), Artista e urbanista autodidata Gênio do barroco brasileiro. Homem livre em sociedade escravista que trabalhou como escultor, projetista e urbanista , traduzindo para o riscado da cidade as demandas de uma sociedade que se modernizava. Construiu uma cidade barroca com espaços de sociabilidade para a população negra carioca (escrava e livre) . Seu legado é a própria cidade. Escultor, entalhador, ourives e arquiteto, na cidade do Rio de Janeiro, em 1813. 02 – Ocorre o primeiro carnaval com a presença das Escolas de Samba, no Rio de Janeiro, em 1935 06 – Independência de Gana (Costa de Ouro), o primeiro país africano a tornar-se independente, tendo como mentor o líder Kwuame Nkrumah, em 1957 07 – Grande marcha pelos direitos civis, de Selma a Montgomery, liderada por Martin Luther King Júnior, no Alabama, EUA, em 1963 08 – Dia Internacional da Mulher 12 – Independência das Ilhas Maurício, em 1968. 14 – Nasce Antonio Frederico de Castro Alves, poeta e abolicionista, na Fazenda Cabaceiras, em Curralinho, Bahia, no ano de 1847 14 – Nasce Abdias do Nascimento, poeta, ator, escritor, dramaturgo, artista plástico, professor universitário, político e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras, ex- senador, criador do Teatro Experimental do Negro (TEN), um dos fundadores do Movimento Negro Unificado (MNU), na cidade de Franca, São Paulo, no ano de 1914 14 – Morre Antonio de Noto, mais conhecido como “Antonio Etíope”, em virtude de sua origem negra, venerado no Brasil como Santo Antonio de Categeró, em 1549 18 - Lançado o jornal “A voz da Raça”, órgão oficial da Frente Negra Brasileira, na cidade de São Paulo, em 1933 19 – Revolta do Queimado, principal movimento de luta contra a escravidão do Espírito Santo, em 1849 20 - Em Sergipe, negros livres e libertos foram proibidos de frequentar escolas públicas pelo governo, em 1838, continuando o estabelecido pela Constituição do Império de 1824. 21 – Dia Internacional de Luta Pela Eliminação da Discriminação Racial instituído pela ONU, em memória das vítimas do massacre de Shaperville, na África do Sul, no ano de 1960,. em decorrência dos acontecimentos, onde a polícia disparou sem aviso sobre a multidão que se manifestava pacificamente, matando 69 e ferindo 186. 21 – Zumbi dos Palmares é incluído na galeria dos Heróis Nacionais, em 1997 25 – “Abolição” da escravatura, no Estado do Ceará, em Baturité, no ano de 1883 25 – Nasce Aristides Barbosa, jornalista, educador e ex-militante da Frente Negra Brasileira, em 1920 28 – Independência de Serra Leoa, em 1961. 30 – Conquista do direito de voto pelos homens afro-americanos nos Estados Unidos, em 1870 Pesquisa de Adomair O. Ogunbiyi - 3 de março de 2008

Hoje na História, 21 de fevereiro de 1965 Malcolm X é assassinado no Harlem

No dia 21 de fevereiro de 1965, Malcolm X, líder da luta contra a opressão dos negros nos Estados Unidos, é assassinado no Harlem. Malcolm-X Malcolm Little nasceu em 19 de maio de 1925 no Nebraska, Estados Unidos. Ele ainda era criança quando o pai, pastor batista, foi assassinado por brancos, provavelmente membros da Ku Klux Klan. Órfão (a mãe estava internada num hospital psiquiátrico), Malcolm e seus irmãos foram entregues a orfanatos. Malcolm e uma irmã foram morar em Boston, onde sobreviveram com trabalhos temporários. Depois, ele mudou-se para o Harlem, bairro de maioria negra em Nova York. Escapou do serviço militar por fingir-se paranóico. Sua carreira no país dos brancos parecia programada: empregos temporários, pequenos delitos, prisão. Em 1946, foi para a cadeia por roubo e receptação. Justamente no isolamento da penitenciária, ocorreu a conversão que transformaria o profundo conhecedor dos becos de Nova York num dos mais carismáticos líderes negros dos Estados Unidos. Atrás das grades, ele entrou em contato com os ensinamentos de Elijah Muhammed, líder da "Nação do Islã". Malcolm estudou o Alcorão e outros escritos filosóficos e ao deixar a prisão em 1952 passou a dedicar-se à organização do Movimento dos Muçulmanos Negros. Trocou seu sobrenome de escravo "Little" por "X", dizendo que "o X significa a rejeição do nome de escravo e ausência de um nome africano para ocupar o seu lugar". Elijah Muhammed considerava-se eleito por Deus para livrar os negros americanos da opressão dos brancos. Malcolm X, seu principal missionário, transformou a mesquita do Harlem em centro do movimento. Movimento muçulmano A luta dos negros americanos por igualdade de direitos intensificava-se desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Nos anos 1960, o movimento sofreu uma divisão: enquanto Martin Luther King apostava na chamada "resistência pacífica", os muçulmanos liderados por Elijah Mohammed e Malcolm X defendiam a separação das raças, a independência econômica e um Estado autônomo para os negros. A principal reivindicação de Malcolm X era a melhoria da qualidade de vida para os negros na América. Pelo menos num ponto seu programa diferia do de outros grupos: Malcolm X argumentava que eles tendiam a esperar mais mil anos para alcançarem seus objetivos. "Enquanto nós, muçulmanos, não estamos dispostos a esperar nem mais cem anos. Queremos a separação total entre escravos e senhores de escravos." Segundo Erik Lincoln, professor de Filosofia Social da Universidade de Atlanta e autor do livro The Black Muslims in America, o movimento muçulmano negro foi, essencialmente, um movimento de protesto social que se comportava mais ou menos como uma seita. Seus adeptos eram principalmente negros da classe mais baixa, que tentavam encontrar seu caminho e seu lugar na sociedade norte-americana. "Talvez, eles, de fato, pretendessem construir sua própria sociedade - uma nação negra de islâmicos", diz. O projeto muçulmano não se tornou realidade, mas foi elogiado até por um de seus mais severos críticos, o sociólogo James Baldwin. Segundo ele, "Mohammed conseguiu realizar o que diversas gerações de assistentes sociais, comitês, resoluções, projetos habitacionais e parques infantis não haviam logrado: curar e recuperar alcoólatras e vagabundos, redimir egressos de penitenciárias e impedi-los de voltar". Assassinato Com o passar do tempo, Malcolm foi ficando cada vez mais famoso. Começou a se distanciar do clichê de que todos os brancos são "endemoniados" e não queria continuar mantendo a fachada de movimento puramente religioso e apolítico. Em março de 1964, Malcolm X rompeu com o movimento e organizou a Muslim Mosque Inc., e mais tarde a "Afro-American Unity", organização não religiosa. Numa viagem a Meca, a cidade sagrada dos muçulmanos, em 1963, mudou o nome para Al Hajj Malik Al-Shabazz. Seu rompimento com a "Nação do Islã" e sua entrementes posição conciliatória em relação aos brancos lhe trouxeram um certo isolamento. No dia 21 de fevereiro de 1965, aos 39 anos, ele foi morto com 13 tiros quando discursava no Harlem. Jamais foram encontradas provas, mas suspeitou-se do envolvimento da "Nação do Islã" no assassinato. Suas ideias foram muito divulgadas na década de 1970 por movimentos como o Black Power e as Panteras Negras. Sua vida e obra também estão documentadas em vários filmes, sendo o mais famoso deles Malcolm X, dirigido por Spike Lee, de 1992. www.arquivo.geledes.org.br

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Antropólogo derruba a ideia de que no Brasil há democracia racial

Por: Thiago de Araújo, BrasilPost Postagem: 10:00 09/02/2016 O professor Kabengele Munanga (divulgação) Doutor em Ciências Sociais da Universidade de São Paulo (USP) reforça que o Brasil possui um quadro ‘gritante’ de discriminação. Acha exagero? Não é o que mostram os números. Professor se aprofunda na crença de setores da sociedade brasileira de que ‘não existe racismo’ por aqui e de que tudo não passa de ‘vitimização’ Ainda hoje há, no Brasil, quem negue a existência do racismo. Discussões sobre questões raciais não surpreendem o antropólogo congolês Kabengele Munanga. Aos 73 anos, o doutor em Ciências Sociais e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) sempre reforça que o Brasil possui um quadro ‘gritante’ de discriminação. Acha exagero? Não é o que mostram os números. “Os dados mostram que, à véspera do Apartheid, a África do Sul tinha mais negros com diploma de nível superior do que no Brasil de hoje”, afirmou Munanga, em audiência pública promovida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2010. O debate girava em torno das políticas de acesso ao ensino superior. Os opositores anunciavam que o País estava prestes a viver uma ‘guerra racial’. Não foi o que se viu. “Não houve distúrbios, linchamentos raciais em nenhum lugar. Não apareceu nenhum movimento ‘Ku Klux Klan’ à brasileira”, comentou o antropólogo. “O que se busca pela política de cotas para negros e indígenas não é para terem direito às migalhas, mas sim para terem acesso ao topo em todos os setores de responsabilidade e de comando na vida nacional onde esses dois segmentos não são devidamente representados, como manda a verdadeira democracia”. Mas e a tão conhecida ‘democracia racial’, nascida pelas mãos de Gilberto Freyre? Antes de mais nada, é preciso compreender do que se trata o preconceito. O professor Munanga assim define o termo: “Preconceito como o próprio termo diga preconceito é uma ideia preconcebida, um julgamento preconcebido sobre os outros, os diferentes, sobre o qual nós mantemos um bom conhecimento. E o preconceito é um dado praticamente universal, pois todas as culturas produzem preconceito. Não há uma sociedade que não se define em relação aos outros. E nessa definição acabamos nos colocando em uma situação etnocêntrica, achando que somos o centro do mundo, a nossa cultura é a melhor, a nossa visão do mundo é melhor, a nossa religião é a melhor, e acabamos julgando os outros de uma maneira negativa, preconcebida, sem um conhecimento objetivo. Isso é o preconceito, cuja matéria prima são as diferenças, sejam elas de cultura, de religião, de etnia, de raça no sentido sociológico da palavra, de gênero, até de idade, as econômicas. Todas as diferenças podem gerar preconceitos”. Na mesma entrevista, concedida à Boa Vontade TV, o congolês se aprofundou na crença de setores da sociedade brasileira de que ‘não existe racismo’ por aqui. De que tudo não passa de ‘vitimização’. Nada disso é surpreendente, de acordo com ele. “Cada país que pratica o racismo tem suas características. As características do racismo brasileiro são diferentes. Por que o brasileiro não se considera racista ou preconceituoso em termos de raça? Porque o brasileiro não se olha no seu espelho, nas características do seu preconceito racial. Ele se olha no espelho do sul-africano, do americano, e se vê: ‘olha, eles são racistas, eles criaram leis segregacionistas. Nós não criamos leis, não somos racistas’. Tem mais: tem o mito da democracia racial, que diz que não somos racistas”. Nem mesmo pessoa flagrada em um ato de racismo vai admitir. E isso é esperado, pelo menos no Brasil. “Esse mito (da democracia racial) já faz parte da educação do brasileiro. E esse mito, apesar de desmistificado pela ciência, a inércia desse mito ainda é forte e qualquer brasileiro se vê através desse mito. Se você pegar um brasileiro até em flagrante em um comportamento racista e preconceituoso, ele nega. É capaz dele dizer que o problema está na cabeça da vítima que é complexada, e ele não é racista. Isso tem a ver com as características históricas que o nosso racismo assumiu, um racismo que se constrói pela negação do próprio racismo”. Recentemente, foi acalorada a discussão a respeito da Base Nacional Comum Curricular (BNC) gerou muita discussão – e críticas –, sobretudo no que diz respeito ao ensino da história, que passaria a privilegiar temas envolvendo Brasil, Américas e África, em detrimento à Antiguidade Clássica e à Idade Média. Mais uma vez, o movimento parece esperado, de acordo com o que Munanga pensa acerca da presença africana e negra no contexto nacional. “O brasileiro gostaria de ser considerado como europeu, como ocidental. Isso está claro no sistema de educação. Nosso modelo de educação é uma educação eurocêntrica. A escola é o lugar onde se forma o cidadão, onde se ensina uma profissão. Há escolas que sabem lidar com os dois lados da educação: ensinar a cidadania e a profissão. A história que é ensinada é a história da Europa, dos gregos e dos romanos. No entanto, quem são os brasileiros? Os brasileiros não só descendentes de gregos e romanos, de anglo-saxões e de europeus. São descendentes de africanos também, de índios, e descendentes de árabes, de judeus e até de ciganos. E se olharmos o nosso sistema de educação, onde estão esses outros povos que formaram o Brasil? Então, há um problema no Brasil, além de essas pessoas serem as maiores vítimas da discriminação social, no sistema de educação formal elas não se encontram, elas são simplesmente ocidentalizadas, são simplesmente embranquecidas. Se colocarmos as questões: “quem somos, de onde viemos e por onde vamos?”, vamos ver que o Brasil nasceu do encontro das culturas, das civilizações, dos povos indígenas, africanos que foram deportados e dos próprios imigrantes europeus de várias origens. Comemoramos os cem anos da imigração japonesa, e fala-se mais dos cem anos da imigração japonesa do que dos 600 anos da abolição. Não tenho nada contra isso, mas fala-se muito pouco da abolição. Então, se queremos saber quem somos, devemos conhecer todas as nossas raízes, aqueles povos que formaram o Brasil, alguns dizem que somos um país mestiço, mas essa mestiçagem não caiu do céu. Já que não queremos reconhecer a diversidade das coisas, suponhamos que sejamos todos mestiços, vamos pelo menos estudar as raízes da nossa mestiçagem, isso faz parte da nossa cultura. Mas o brasileiro não se incomoda, o brasileiro quer se ver como europeu ocidental, parece que o brasileiro não se enxerga”. Há avanços, mas o caminho é longo para que a diversidade prevaleça, assim como a igualdade de oportunidades no Brasil. Para o professor da USP, cada preconceito demanda o seu próprio antídoto. No caso do racismo, é ilusório esperar que ele venha pelo caminho das leis. Não, o campo de combate está sediado na sala de aula, desconstruindo mitos até mesmo para quem é vítima neste processo e aceita tal condição. “Preconceitos são muitos, por isso você não pode ter uma formula geral para combater todos os preconceitos. Em primeiro lugar, você não se combate com a lei, que combate os comportamentos concretos que podem ser observados, flagrados e punidos. Os preconceitos são em um terreno em que você não combate com a leis, por isso a educação é importante. A educação é um dos caminhos para combater os preconceitos, não as leis”. Leia também: Omissões da imprensa reforçam o mito da democracia racial Mito da democracia racial só fez mal ao negro no Brasil Fonte: Pragmatismo Político Categorias: Direitos Humanos Tags: #MitodaDemocraciaRacial #KabengeleMunanga #Racismo #Preconceito#Discriminação #CEERT

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Grande vitória: Proibido casamento com meninas crianças no Zimbábue

POSTED ON: 29 DE JANEIRO DE 2016AUTHORANA VICTORAZZICIDADANIA O Tribunal Constitucional do Zimbábue proibiu o casamento infantil na quarta-feira depois de duas ex-noivas-crianças levarem ao governo um caso inovador para contestar a prática que é comum na nação sul Africana. Loveness Mudzuru e Ruvimbo Tsopodzi pediram para o casamento com crianças ser declarada ilegal e inconstitucional, afirmando que é uma forma de abuso infantil. O tribunal decidiu que a partir de 20 de janeiro ninguém no Zimbabwe pode entrar em qualquer casamento, incluindo sindicatos da lei costumeira, antes da idade de 18 anos, e derrubou uma seção do Ato do Casamento, que permite que as meninas se casem aos 16 anos. Quase um terço das meninas no Zimbabwe casam antes dos 18 anos e 4% antes de completar 15 anos, privando-as de uma educação, aumentando a probabilidade de violência sexual e colocando-as em risco de ferimentos graves ou morte no parto. “Eu realmente estou feliz em ter desempenhado um papel fundamental para tornar o Zimbábue um lugar seguro para as meninas”, disse Mudzuru, que se casou aos 16 anos e teve dois filhos antes dos 18 anos. A decisão delineou as “consequências terríveis” de casamento infantil e disse que é uma “falta de consciência social comum” sobre os problemas enfrentados por meninas que se casam cedo. Beatrice Savadye, que dirige o ROOTS, grupo de direitos que apoiaram o desafio legal, disse: “Estou muito feliz. Este é um marco na campanha para acabar com este flagelo na sociedade”. Mas ela disse que mais precisa ser feito ainda para educar as comunidades sobre os perigos do casamento de crianças. Ela também pediu penas mais duras para qualquer um condenado por se casar com uma menor. Em declarações ao Tribunal Constitucional no ano passado, Tsopodzi e Mudzuru disseram que o ato da união do Zimbábue era discriminatório por definir a idade mínima de 16 para meninas e 18 para meninos. A Lei do Casamento consuetudinário não estabelece idade mínima. A pobreza é a força motriz por trás do casamento de crianças no Zimbábue. Os pais muitas vezes casam as meninas jovens, então eles têm menos bocas para alimentar. Pagamentos dote podem ser mais um incentivo. Em seu depoimento, Mudzuru descreve como o casamento infantil e a pobreza criam um círculo vicioso. “As meninas que se casam cedo e frequentemente de famílias pobres são forçados a produzir filhos mais novos em um mar de pobreza e o ciclo começa novamente”, afirmou. Mudzuru disse a Thomson Reuters Foundation no ano passado que sua vida era um “inferno”. “Educar uma criança quando você é uma criança é difícil”, disse ela. “Eu deveria estar indo para a escola.” Globalmente, cerca de 15 milhões de meninas são casadas a cada ano. Em toda a África subsaariana, dois em cada cinco meninas casam quando crianças. Fonte: Huffington Post

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

UM ANO DO ASSASSINATO DE ALDAIR DA SILVA

HOJE COMPLETA UM ANO DO ASSASSINATO DO ALDAIR EM CAXIAS DO SUL, DEVIDO A UM DESENTENDIMENTO COM UM JOVEM BRANCO NUM JOGO DE FUTEBOL.O PAI DO RAPAZ ENFURECIDO FOI EM CASA BUSCAR A ARMA E ASSASSINOU A SANGUE FRIO, O NEGRO QUE NÃO PODERIA TER DISCUTIDO COM SEU FILHO BRANCO. HOJE, A FAMÍLIA SOFRE, SENTE A DOR DA SAUDADE. O ASSASSINO ESTÁ SOLTO, COM CERTEZA AO LADO DO SEU FILHO. A MÃE DO ALDAIR NÃO PODERÁ MAIS VÊ-LO OU ESTAR A SEU LADO, GRAÇAS AO GESTO DE ALGUÉM QUE PENSOU APENAS NA DIFERENÇA DA COR DA PELE PARA ASSASSINAR ALDAIR. DEVEMOS COMBATER O GENOCÍDIO DOS JOVENS NEGROS, E COBRAR DAS AUTORIDADES,JUSTIÇA E PUNIÇÃO AO ASSASSINO. ATÉ QUANDO A JUVENTUDE NEGRA CONTINUARÁ SENDO ASSASSINADA E OS RESPONSÁVEIS SEM PUNIÇÃO? O BRASIL TEM QUE MUDAR! ESSA REALIDADE NÃO PODE MAIS CONTINUAR. JUSTIÇA!

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

O sonho sublime de um ex-escravo

Primeiro autor a se admitir negro, Luiz Gama lutou na Justiça e na imprensa pela libertação de cativos Ligia Fonseca Ferreira Charge publicada no semanário satírico Revista Ilustrada em agosto de 1888, apontando as transformações no corpo e na mnente dos recém-libertos. (Fundação Biblioteca Nacional) O ex-escravo Luiz Gama, que se tornou abolicionista e republicano – o único regime, segundo ele, capaz de garantir liberdade, igualdade e fraternidade entre os homens – foi uma das personalidades negras mais notáveis do século XIX. Em 1869, quase cem anos antes de Martin Luther King, o poeta, jornalista e advogado se antecipou ao norte-americano e declarou igualmente ter um sonho, um “sonho sublime”, que transparecia também um desejo de igualdade: “as terras do Cruzeiro, sem reis e sem escravos”. Em 1880, dois anos antes de morrer, Gama evocou, em carta ao amigo Lúcio de Mendonça, fatos relevantes de sua vida. Sua genealogia reproduzia a matriz afro-luso-brasileira de boa parte do país. Nascido em 21 de junho de 1830 em Salvador, era filho de uma africana livre, a “altiva” Luiza Mahin, muitas vezes presa por envolver-se em revoltas negras que, segundo ele, “não tiveram efeito”, mas na época agitaram a Bahia. Gama nunca revelou o nome do pai, fidalgo de origem portuguesa, protagonista de um episódio dramático: vendeu o próprio filho de 10 anos como escravo. Nesta condição o futuro abolicionista chegou à cidade de São Paulo, onde residiu até o fim da vida. Aos 17 anos, obteve as provas de ter nascido livre, aprendeu a ler e a escrever, iniciando sua extraordinária aventura com a palavra escrita, universo quase exclusivo de homens livres e brancos, no qual se consagraria 12 anos depois. Em 1859, Gama publica em São Paulo seu único livro, Primeiras trovas burlescas (PTB), coletânea de poemas satíricos nos quais denuncia os paradoxos políticos, éticos e raciais da sociedade brasileira. Reeditada no Rio de Janeiro em 1861, a novidade editorial e literáriaocorre num Brasil escravocrata, independente há menos de 40 anos e em pleno período romântico, durante o qual o negro-escravo despontou como tema na poesia, como no monólogo “Saudades do Escravo” (1850), de José Bonifácio. Também apareceu como personagem no teatro – como no drama Calabar (1858), de Agrário de Meneses, primeira peça brasileira a apresentar um herói negro – e no romance, como o atesta Maria ou a Menina Roubada (1852), de Teixeira e Sousa. Neste contexto, Gama fincou uma voz inaugural, a do primeiro autor negro que se enuncia enquanto tal, figura até então ausente da literatura brasileira. A questão racial aparece em vários poemas. Em “Quem sou eu”, também conhecido como “Bodarrada” (uma reunião de mestiços), o poeta lança: “Se negro sou, ou sou bode,/ Pouco importa./ O que isto pode?/ Bodes há de toda a casta,/ Pois que a espécie é muito vasta”. Nesses versos provocativos, ele rejeita o sentido negativo de “negro”, bem como o da pejorativa palavra “bode”, aplicada aos mulatos de pele escura. Em vez de insulto, são recebidos como elogio, em tranquila indiferença, pois naquele extenso corpo social, irrigado pelo sangue africano, à imagem do poeta, “tudo é bodarrada!”. Tinha-se ali um retrato do Brasil, comprovado pelo Censo de 1872, no qual os escravos correspondiam a 15% de uma população de 10 milhões de habitantes, dos quais 58% se declararam pardos ou pretos, e 38%, brancos. A população do país só veria sua fisionomia alterada a partir dos anos 1880, com a chegada da imigração europeia destinada a substituir a mão de obra escrava e, sobretudo, a embranquecer o país. Gama condenou igualmente os “mulatos de cor esbranquiçada” que, ao ascenderem socialmente, “desprezam a vovó que é preta-mina” e “esquecem os negrinhos seus patrícios”. Com lucidez e ironia, os versos de Gama ecoavam o preconceito reinante (“Ciências e Letras/ Não são para ti/ Pretinho da Costa/ Não é gente aqui”), antecipando o grito angustioso de Cruz e Sousa (“Artista! Pode lá isso ser se tu és d’África!”). Na linha da sátira moralista, as PTB expõem os males congênitos da sociedade imperial, aliás, perpetuados sob a República a que o poeta, morto em 1882, não assistiu: venalidade, corrupção, impunidade. É o que se lê no atualíssimo poema “Sortimento de gorras para a gente do grande tom”: Se a justiça, por ter olhos vendados, É vendida, por certos Magistrados, Que o pudor aferrando na gaveta, Sustentam — que o Direito é pura peta; E se os altos poderes sociais, Toleram estas cenas imorais; Se não mente o rifão, já mui sabido: — Ladrão que muito furta é protegido — É que o sábio, no Brasil, só quer lambança, Onde possa empantufar a larga pança! A partir dos anos 1860, Gama dedicou-se exclusivamente ao jornalismo e à militância abolicionista. Ajudou a criar os primeiros periódicos ilustrados de São Paulo (Diabo Coxo, 1864;Cabrião,1866) ao lado do cartunista Ângelo Agostini. Colaborou em importantes jornais, como o Radical Paulistano, órgão do Partido Liberal Radical, o Correio Paulistano e A Província de São Paulo, e fundou o semanário político e satírico O Polichinelo (1876). Escreveu para órgãos da Corte, como a Gazeta da Tarde, na qual, entre 1880 e 1882, somou sua voz à dos abolicionistas negros Ferreira de Menezes, André Rebouças e José do Patrocínio. Exímio comunicador, dirigia-se do escravo ao Imperador. Nenhum dos grandes temas nacionais escapou à pena audaz de Gama: Guerra do Paraguai, Questão Religiosa, abolição, monarquia e república. A imprensa foi fundamental para seu ativismo, bem como os laços com a maçonaria, que o apoiou na missão de libertar e garantir os direitos dos escravos. Em seus artigos, Gama demonstrava como os próprios representantes do Direito violavam as leis em benefício da ordem escravista. No Radical Paulistano, de 1869 a 1870, analisava sentenças e expunha os erros cometidos por juízes corruptos e prevaricadores. Além de apontar “o modo extravagante [como] se administra a justiça no Brasil”, o exercício permitia ao advogado autodidata exibir sua cultura jurídica, vendo-se obrigado a dar “proveitosa lição de direito” aos doutores, embora não fosse ele graduado em jurisprudência, nem tivesse “frequentado escolas”. O abolicionismo paulista ganhou contornos específicos graças a estratégias inovadoras adotadas por Gama e seu grupo. Uma delas consistiu em desenterrar a lei de 7 de novembro de 1831, que extinguia o tráfico negreiro, para libertar africanos “ilegalmente escravizados”, com a anuência de autoridades que, aos olhos de Gama, participavam de um crime. Certa vez, indignado pela não aplicação daquela lei num processo de que se encarregava, o advogado engalfinhou-se com o juiz Dr. Rego Freitas. Este lhe negara o depósito judicial de um africano, comprovadamente chegado ao Brasil após 1831. Os leitores paulistanosacompanharam a briga pelos jornais. Gama não se inti¬midou perante o juiz e, irritado, esbravejou, “perante o país inteiro”, instando-o a “cingir-se à lei” e a “cumprir seu dever”, para o que era “pago com o suor do povo, que é o ouro da Nação”. Atitudes como esta lhe renderam graves represálias, mas a partir daí sua projeção pública só aumentou. Escravos de São Paulo e de outras províncias recorriam ao advogado, que anunciava em alto e bom som: “Eu advogo de graça, por dedicação sincera à causa dos desgraçados; não pretendo lucros, não temo violências”.Ainda na carta a Lúcio de Mendonça, o abolicionista fez o balanço de seu abnegado serviço: “[no foro e na tribuna ganho] o pão para mim e para os meus, que são todos os pobres, todos os infelizes; e para os míseros escravos, que em número superior a 500 tenho arrancado às garras do crime”. Por suas origens, conquistas e valores, Gama surge diante de nossos olhos como uma síntese – na cor, no coração e na mente – de grande parte do povo brasileiro que conserva características e anseios semelhantes aos seus. Destacou-se como agente de mudança num período em que questões importantes convulsionavam as instituições e a própria identidade do Brasil. Em seus últimos anos, dedicou-se somente a libertar pessoas “ilegalmente escravizadas”. Mesmo enfermo, saía carregado de casa para atender a seus clientes. Faleceu em 24 de agosto de 1882. A vida de Gama norteou-se por princípios que lhe deram o conforto de proclamar: “Sou abolicionista sem reservas; sou cidadão; creio ter cumprido meu dever”. Ligia Fonseca Ferreira é professora da Universidade Federal de São Paulo e autora de Com a palavra Luiz Gama. Poemas, artigos, cartas, máximas (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2011). Cartas sobre a vida e anseios Na Biblioteca Nacional encontram-se duas preciosas cartas de Luiz Gama. A primeira, datada de 26 de novembro de 1870, destinava-se a José Carlos Rodrigues, que naquele ano fundara em Nova York o Novo Mundo, primeiro periódico em português publicado nos Estados Unidos, país pelo qual Gama nutria particular admiração por considerá-lo o “farol da democracia universal”. O remetente dá notícias sobre a fundação da Loja América e sobre a mobilização republicana na capital paulista, dias antes de ser publicado o Manifesto Republicano (em 3 de dezembro de 1870) no Rio de Janeiro. A segunda carta foi enviada em 25 de julho de 1880 a Lúcio de Mendonça, um dos futuros fundadores da Academia Brasileira de Letras. Gama revela fatos inéditos de sua vida, da infância na Bahia ao final dos anos 1860. Trata-se de um dos poucos relatos da vida de um ex-escravo no Brasil. Na história dos negros e das letras brasileiras, não há equivalentes das memórias de escravos, tão frequentes nos Estados Unidos. A carta a Lúcio de Mendonça, que serviria de base para um ensaio biográfico sobre o amigo, é fundamental para a compreensão de como Gama adquiriu uma voz influente nos movimentos abolicionista e republicano. Saiba mais AZEVEDO, Elciene de. Orfeu de Carapinha. A trajetória de Luiz Gama na imperial cidade de São Paulo. Campinas: Editora da Unicamp, 1998. FERREIRA, Gabriela Nunes & MOTA, Carlos Guilherme (coords.).Os juristas na formação do Estado-Nação brasileiro (1850-1930). São Paulo: Saraiva/ Fundação Getúlio Vargas, 2010. GAMA, Luiz. Primeiras Trovas Burlescas e outros poemas. Introdução e organização de Ligia Fonseca Ferreira. São Paulo: Martins Fontes, 2000. Fonte: www.revistadehistoria.com.br

Luiz Gama: Quanto vale um homem?

Publicado há 4 dias - em 30 de janeiro de 2016 » Atualizado às 11:00 Categoria » Afro-brasileiros No tempo da escravidão, o valor era medido pela capacidade de produção do trabalhador escravizado. No capitalismo, pela força de trabalho, do assalariado. Para a história, o valor de cada ser humano, tem medida no legado que se deixa para as gerações vindouras. Luiz Gama foi imprescindível na luta travada contra a escravidão no Brasil no período imperial. Sua obra, sua história e sua devoção à causa libertária estão relatadas em duas biografias recém-lançadas. Por Marcos Aurélio Ruy*, do Vermelho A professora de antropologia Lilia Schwarcz faz uma comparação entre as trajetórias de Luiz Gama e do escritor Lima Barreto, que também superou adversidades que pareciam intransponíveis, para se transformar num dos maiores escritores brasileiros. “É duro não ser branco no Brasil. A capacidade mental dos negros é discutida a priori e a dos brancos a posteriori”, disse Lima Barreto dando uma definição clara do racismo brasileiro. Como explica Schwarcz Gama “escancarou faces da discriminação” e usou de todas as armas de que dispunha para libertar escravos, como advogado, jornalista e escritor. Ambos se afirmaram como negros e denunciaram as mazelas do racismo. Ela adverte ser muito difícil biografar Luiz Gama pela carência de fontes. O principal documento para sua contar a sua vida foi uma carta que escreveu para o amigo Lúcio de Mendonça, que, diz o seu biógrafo Luiz Carlos Santos, “embora seja, em última instância, uma carta de um amigo para outro, ganhou dimensão de epopéia por ter sido escrita dois anos antes da morte de Gama e oito antes da abolição, e por relatar fatos que só o autor poderia constatar.” Polêmicas a parte, os dois livros trazem à tona a importância desse homem que dedicou seus 52 anos de vida a causa da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Venceu o racismo, a escravidão, a perseguição política e tornou-se “o negro mais importante do século XIX”, nas palavras de Miguel Reale Júnior. Os livros Recentemente foram lançados dois livros sobre a vida deste lutador. O Advogado dos Escravos: Luiz Gama, de Nelson Câmara, apresenta petições de Gama para libertação dos negros com base nas leis existentes contra o tráfico de escravos e a luta incessante para que o maior número possível de escravos conseguisse juntar dinheiro para comprar sua carta de alforria, por mais paradoxal que possa parecer o escravo comprar a sua liberdade. O livro “traz o travo amargo da memória de nossa terra injusta, mas ao mesmo tempo reconforta pelo exemplo edificante do biografado, cujas petições podem ser lidas para auferir ânimo na luta contra todas as injustiças que ainda nos assolam”, afirma Reale Júnior. O livro Luiz Gama, de Luiz Carlos Santos, valoriza a trajetória do “precursor do Abolicionismo” à sua atuação como abolicionista e intelectual importante para a formação do pensamento libertário e de lutas dos movimentos negros futuros. “Enxergando além de seu tempo, Gama não separou o social do racial e combateu tanto a escravidão quanto a monarquia”, afirma Santos, como “defensor dos ideais republicanos, não os separava de sua obstinada luta contra escravatura”, diz. Nelson Câmara explicita que “suas intervenções nos encontros políticos sempre procuravam articular a luta pela emancipação política do Brasil e a imediata abolição do trabalho escravo”. Luiz Gama foi voz incessante “pelo fim imediato da escravidão e da própria monarquia, sem nenhuma concessão de prazo para a propalada transição do trabalho servil para o trabalho livre”, conclui Santos. A vida Nascido em 21 de junho de 1830, Luiz Gonzaga Pinto da Gama era filho da revolucionária ex-escrava Luiza Mahin e de um fidalgo português. Sua Mãe participou da Revolta dos Malês em 1835 e da Sabinada em 1937, movimentos importantes de insurreição contra a escravidão, na Bahia. Luiza Mahin “era revolucionária natural, sempre com o objetivo de libertar sua raça dos grilhões da escravidão”, acentua Câmara e complementa “foi um destacado elemento de conspiração entre os negros oprimidos. Sua casa na Bahia tornou-se um dos fortes redutos de chefes de chefes da revolta de 1835. Ninguém sabe que fim levou e seu nome permaneceu na história e na lenda como um grande símbolo do valor da mulher negra no Brasil.” Como advogado, sem diploma, Gama libertou mais de 500 escravos, gratuitamente. Também foi um “jornalista nato, de grandes recursos intelectuais, pena vibrante, estilo combativo e satírico, destemido, sempre fiel ao fato e à notícia como convém ao verdadeiro profissional de imprensa”, diz Câmara, “mas sem deixar de ministrar sua opinião política e filosófica”, explica. O advogado utilizava como expediente publicar anúncios em jornais de seu trabalho para quem desejasse ser livre e não tivesse como pagar por isso. Como poeta, Gama deixou em suas Primeiras Trovas Burlescas poesias com temas sociais e de maneira irônica mostrava as mazelas dos poderosos da época. No poema Quem Sou Eu? A veia do advogado falou mais alto: “Não tolero o magistrado,/Que do bico descuidado,/Vende a lei, trai a justiça/- Faz a todos injustiça -/Com rigor deprime o pobre,/Presta abrigo ao rico, ao nobre,/E só acha horrendo crime/No mendigo, que deprime.” Paulo Fanchetti afirma que “a obra poética de Luiz Gama é pequena, e o que há nela de melhor são os poemas que satirizam os costumes, as modas e, principalmente, os vícios de classe”. Vendido como escravo pelo próprio pai para pagar dívida de jogo aos 10 anos de idade, Luiz Gama resistiu e foi fundo na sua vontade de viver e derrotar o que submetia a si e à sua classe, defendendo a libertação dos escravos e a República como possibilidades de superação da tragédia do escravismo e do atraso do Império. Aos 17 conseguiu libertar-se, fugindo da escravidão e alfabetizando-se para tonar-se voz fundamental na história dos negros brasileiros por sua emancipação social e política. Ele “usava a imprensa para pugnar pela liberdade incondicional, denunciava a escravidão como fator de degradação do ser humano e da sociedade”, acentua Câmara para mostrar o lado jornalista do homem que era a própria encarnação da luta abolicionista no país. O homem Quando quis ser bacharel pela Faculdade Direito, “a mocidade estudantil recusou seu ingresso pela condição de negro em plena escravidão”, conta Nelson Câmara. Mas isso não abateu o jovem ex-escravo, que conquistou o direito de advogar, mesmo sem diploma. “Não possuía pergaminhos, porque a inteligência repele os diplomas como Deus repele a escravidão”, escreveu Gama no artigo intitulado Pela Última Vez, em 1869, após ter sido demitido por motivação política de cargo público. “A polêmica funcionou como ótima propaganda antiescravista e em favor da República. Luiz Gama afirmava que sua causa era a liberdade dos escravos, e que o governo cometera um ato arbitrário ao demiti-lo, pois sua atuação era inteiramente legal, baseada nas lei vigentes”, explica Câmara. O “advogado dos escravos” soube usar sua demissão para atrair a atenção para a luta por igualdade racial. Gama “transformou-se na figura central da luta contra a escravidão”, afirma Santos. “Amo o pobre, deixo o rico”, esse verso dele ilustra bem eu pensamento a respeito da luta travada no império contra a escravidão. “ Para o coração não há códigos: e se a piedade humana e a caridade cristã se devem enclausurar no peito de cada um, sem se manifestar por atos, em verdade vos digo aqui, afrontando a lei, que todo escravo que assassina o seu senhor pratica um ato de legítima defesa”, disse Gama num auto de defesa de um escravo. “Luiz Gama foi personagem do século XIX, que viveu em um dos maiores centros escravocratas do país, a então província de São Paulo, em pleno desenvolvimento da riqueza do café”, diz Câmara. Mesmo assim “tornou-se símbolo nacional de resistência negra ao escravismo, de liderança libertária, de democrática luta pela abolição e o fim da Monarquia. Luta nos campos político, jornalístico e jurídico, no enfretamento direto à sociedade dominante”, conclui. A luta Também se filiou ao Partido Liberal Republicano em São Paulo e levou sua luta aos tribunais, às redações de jornais e à literatura. Notam-se as dificuldades que esse homem enfrentou em sua vida e as asperezas que o aguardavam. A vida não apresentava facilidades para “quem advogava em favor dos desvalidos contra o peso dos interesses econômicos e contra o preconceito de muitos juízes formados na mentalidade escravagista.” Sendo que Gama foi o principal divisor de águas do partido em que era “mantida uma luta surda entre os radicais abolicionistas e conservadores escravocratas no seio do Partido Republicano”, diz Câmara. Gama foi o principal divisor de águas do partido em que era “mantida uma luta surda entre os radicais abolicionistas e conservadores escravocratas no seio do Partido Republicano”, diz Câmara. Era uma luta inconciliável mesmo porque, para Luiz Gama – como disse ao tomar conhecimento do linchamento de quatro negros que mataram o filho de seu senhor – “escravo que mata senhor, seja em que circunstância for, mata em legítima defesa”. Luiz Gama “tornou-se maçom e, nessa sociedade, alargou espaços, libertando homens e realizando planos”, conta Santos. Para ele nas condições dadas, “a caridade é um poderoso elemento de civilização e regeneração social”. Nelson Câmara destaca também a luta dos caifazes liderados por Antônio Bento, “um movimento revolucionário-guerrilheiro, completamente à margem da lei, impacientemente para alcançar o fim da escravidão”. Para Lilia Schwarcz “o abolicionismo não foi exclusivamente legal. Existiram grupos como os ‘caifazes’, que, liderados por Antônio Bento, promoviam e incentivavam a fuga direta de cativos. Esse grupo ficou famoso por ter organizado um quilombo (chamado Jabaquara) nas imediações do porto de Santos.” Com o auxílio dos ferroviários, emergentes na época, os caifazes libertavam e transportavam os libertos para Santos. Antônio Bento liderou o movimento com “caminhos e métodos mais radicais, revolucionários mesmos, para dar fim à escravidão. Curioso é que, em sua pregação, utilizava a fé católica para demonstrar a contradição, comparando os martírios dos escravos aos de Cristo”, afirma Câmara. Como Antônio Bento, Luiz Gama lutou em várias frentes, na legalidade ou fora dela, como ressalta Câmara. O combate à escravidão não se deu somente pela via da legalidade. Existiram em toda nossa história diversos movimentos de contraposição à opressão escravista. Nomes importantes como o casal Zumbi e Dandara dos Palmares ficaram para a história e transformaram-se em grandes heróis das lutas populares deste país. Luiz Gama está entre eles. A luta desenvolvida por Luiz Gama foi sumamente importante para o propósito da igualdade na sociedade brasileira. Proposta válida ainda hoje, pois o preconceito racial ainda é forte em nosso contexto. “Luiz Gama lutava simultaneamente em várias frentes, na legalidade ou fora dela”, diz Câmara e afirma: “era a missão de sua vida”. E, provavelmente por suas propostas avançadas e radicais, chegou a ser taxado, em 1864, de agente da Primeira Internacional Socialista (a Associação Internacional dos Trabalhadores, fundada e dirigida por Karl Marx), acontecimentos que “respingaram na América escravocrata”, afirma Santos. Justamente porque Gama foi “o primeiro a compreender a abolição como passo final para a República, unindo logicamente os dois princípios num mesmo anseio de redenção humana e nacional”, afirma Câmara. E porque como diz Raul Pompéia, Luiz Gama recebia “constantemente em casa aquele mundo de gente faminta de liberdade, uns escravos humildes, esfarrapados, implorando libertação, como quem esmola: outros mostrando as mãos inflamadas e sangrentas das pancadas que lhe dera um bárbaro senhor: outros… inúmeros… (…) Toda essa clientela miserável saia satisfeita, levando este uma consolação, aquele uma promessa, um outro a liberdade, alguns dinheiro, alguns um conselho fortificante…” Para inglês ver Por precisar de mercados consumidores, a grande potência do século XIX, Inglaterra, passou a combater o escravismo. O trabalho do advogado defensor dos negros baseava-se em um tratado entre Portugal e Inglaterra, que proibiu o tráfico de escravos nas colônias portuguesas. E também na lei de 7 de novembro de 1831, que proibia a importação de africanos. Já em 1839 era autorizada a apreensão de navios negreiros pelos ingleses e em 1845 os navios brasileiros eram submetidos á jurisdição britânica. A Lei Eusébio de Queiroz, de 4 de setembro de 1850, proibia definitivamente a importação de africanos. Foi quando surgiu a expressão “para inglês ver”, pois essas leis eram normalmente burladas. Com o endurecimento dos ingleses e a luta intensa travada internamente pelos abolicionistas, “surgiu novo e imundo ‘tráfico interno’, ou seja, de escravos do Nordeste, onde a lavoura canavieira estava decadente, para utilizá-los nas províncias do Rio de Janeiro e de São Paulo; primeiramente na lavoura canavieira, depois na cafeeira”, explica Câmara. Outro conflito de Luiz Gama com a elite escravista ocorreu quando houve a Convenção de Itu (1873), na qual muitos fazendeiros aderiram à República sem mencionar o fim do escravismo. Nela “os republicanos de São Paulo, na maioria fazendeiros recusaram-se, para grande irritação e escândalo do abolicionista Luiz Gama, a incluir a abolição em seu programa, alegando que era assunto dos partidos monárquicos”, diz José Murilo Carvalho. Gama manteve seus propósitos e seguiu libertando escravos e exigindo o cumprimento das leis. Influenciou a iniciativa da Lei do Ventre Livre e depois utilizou também em seus trabalhos a dos Sexagenários. Mesmo compreendendo as limitações dessas leis. Era a “autoridade moral e intelectual de um negro ex-escravo, que se nivelava a mais alta inteligência jurídica do país”, afirma Câmara. A morte No artigo Pela Última Vez, Gama diz que “enquanto os sábios e os aristocratas zombam prazenteiros a miséria do povo, os ricos banqueiros capitalizam o sangue e o suor do escravo… Aguardo o dia solene da regeneração nacional, que há de vir; e se já não viver o velho mestre, espera depô-lo com os louros da liberdade sobre o túmulo que encerrar as suas cinzas.” Parecia profetizar acontecimentos futuros. Luiz Gama morreu em 24 de agosto de 1882, por causa de seu diabetes. Morreu pobre, mas deixou como legado para as gerações futuras sua determinação e abnegação à causa libertária e de construção da identidade nacional calcada na formação do povo brasileiro. Deixou uma carta a seu único filho dizendo que “diz a tua mãe… que não se atemorize da extrema pobreza que lhe lego, porque a miséria é o mais brilhante apanágio da virtude. Tu evita a amizade e as relações dos grandes homens; eles são como o oceano que se aproxima das costas para corroer os penedos…” Por isso para Luiz Carlos Santos “retratar Luiz Gama é descobrir como a ousada presença negra no serviço público ajudou a desmontar e a denunciar a quem a justiça do estado imperial efetivamente servia.” A importância de Gama para a história do Brasil e para as lutas futuras dos movimentos negros é demonstrada em seu féretro em 25 de agosto de 1882, no qual compareceram cerca de 3 mil pessoas, na capital paulista, que na época contava com aproximadamente 40 mil habitantes, ou seja, 7,5% da população. Em comparação com a São Paulo atual, esse número equivaleria a mais ou menos 1 milhão de pessoas no enterro do “advogado dos escravos”. Na parede da casa onde Gama nasceu em Salvador está afixado: “nasceu livre Luiz Gonzaga Pinto da Gama. Filho de Luiza Mahin, nagô de nação. Escravizado aos 10 pelo pai, seguiu para São Paulo. Ali se libertou analfabeto aos 17 anos, autor literato aos 29, encontrou na advocacia o caminho que o levaria às culminâncias da fama. Considerado o maior orador de seu tempo. Sua vida exemplar tornou-o um símbolo de cultura capaz de orgulhar país da mais alta civilização.” A vida segue em frente Estudar a vida e a obra de Luiz Gama é importante para a compreensão da consolidação do processo abolicionista no segundo reinado brasileiro e as lutas pela República e pela igualdade racial num país que tem o preconceito de raças profundamente enraizado em sua história escravocrata, principalmente em sua elite, que vira as costas pra o país e se espelha na vida da elite européia ou norte-americana. A luta desenvolvida por Gama contra a escravidão é a mesma atualidade contra o racismo no Brasil. A defesa da cotas nos bancos escolares e no mercado de trabalho são peças fundamentais para atingirmos a igualdade. “O combate à desigualdade racial exige mais que políticas sociais e precisa ser acelerada por políticas afirmativas que tratem os desiguais de forma desigual para que, no final, a igualdade seja alcançada’, diz José Carlos Ruy. Afinal um homem vale a sua luta, a sua vida, sua história. É o que fica para a posteridade, é a demonstração de generosidade e solidariedade humana e nesses quesitos todos, Luiz Gama é praticamente imbatível. Um homem também se vale pelo que faz ou pelo que deixa de fazer. Como disse Pitágoras “o homem é a medida de todas as coisas – das que são enquanto (e porque) são, e das que não são (e porque) enquanto não são”. Salve Luiz Gama, um grande herói brasileiro. *Marcos Aurélio Ruy é jornalista Tags: afro-brasileiros • Luiz Gama Leia a matéria completa em: Luiz Gama: Quanto vale um homem? - Geledés http://www.geledes.org.br/luiz-gama-quanto-vale-um-homem/#ixzz3z7Q8I2J1 Follow us: @geledes on Twitter | geledes on Facebook